sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Veneno Humano

De um passeio profundo por densas florestas já sobrevivi
Toda minha vida aprisionado nas mais profundas masmorras
Sobrevivendo à companhia das mais hostis serpentes
A forca seria preferível, pois o veneno ainda está em mim...

Da liberdade condicional prazeres lícitos me foram privados
Do fundo do inferno interior os cães dilaceram minha alma
Enquanto ambições me perseguem como abutres zombeteiros
Talvez o veneno já tenha me matado e eu ignoro...

A amarga essência da morte já sinto
Talvez o veneno seja eu mesmo
Pois ando de cova em cova sem achar meu espaço
Tropeçando em erros que jurei me desviar

Não posso culpa-los por minha sina
Não posso obriga-los a respirar meu veneno
Como um peregrino, nasci para andar sozinho
Só posso lhes dizer adeus...

                                                (Moonlight Rider)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Conto: Aos Olhos do Gato

“Consegui, a vida eterna, pela graça dos deuses!” declamava o louco e decadente médico Eiseinholtz, no interior de seu rústico e repulsivo exílio nas soturnas montanhas do leste.  “Nem a morte temo, pois logo estarei próximo de ti, Ulsharah!”, declamava, como que para uma amante.
     Ulsharah, deusa da imortalidade, descoberta por Eisenholtz, nas páginas de um estranho livro antigo, que ele obteve em uma de suas viagens como médico voluntário em uma pobre e supersticiosa tribo do sul, onde cuidara de um misterioso ancião, tombado por uma misteriosa doença.
     Os voluntários se perguntavam que tipo de família teria abandonado seu progenitor a própria sorte de maneira tão cruel. Ávido por novidades e curioso que era Eisenholtz se ofereceu para cuidar do velho, ansioso para descobrir a cura para aquela doença. Passaram-se semanas, e Einsenholtz passara a ser evitado pelos nativos, tal como se carregasse a sina do ancião consigo.
     Passou-se meio ano, e enfim o ancião falecera, tombado pela doença que há tanto anos o torturara. Embora o sepultamento tenha ocorrido conforme as tradições, seu cadáver fora roubado, e Eizenholtz fora acusado por uma jovem aldeã, devido a sua afinidade com o falecido, além das suspeitas de ter sido flagrado recitando um mantra proibido, mas, devido à falta de provas, fora apenas advertido.
      Daí se data o inicio de sua decadência, quando o Dr. Eisenholtz é expulso da colônia, devido ao sumiço de animais da região. Mesmo com a ausência de provas, seu superior o expulsa, temendo a opinião pública.
       A sua esposa fora a primeira da vila a reparar na sua repentina mudança de hábitos.  Ele abandonara a igreja, antes cristão devoto. Faltava ao trabalho e gastava a maior parte de sua indenização em livros e objetos esotéricos.
       Passado um ano, sua mulher deixa a casa, indo morar com os pais, e Eiseinholtz convidou de vez a loucura para junto de si. Estranhas encomendas chegavam sem cessar à sua porta, e estranhas pessoas passaram a frequentar a sua casa. Não o suficiente, passara a ser acusado de violar túmulos e surrupiar livros da biblioteca.
      Não suportando as perseguições, ou apenas para levar adiante sua loucura, Eisenholtz vendera sua casa na cidade, se mudando para uma isolada cabana nas montanhas, voltando para a cidade apenas para a compra de suprimentos, ou mais livros e objetos.
      Adquiriria por último um exemplar de capa negra, com inscrições em língua morta, comprado de um cigano. Passou quase um ano esculpindo a estátua de uma peculiar deusa, denominada Ulsharah. Fogueiras eram acesas mensalmente e animais eram comprados com destino duvidoso.
      Seu ultimo animal fora um negro gato. Com seus grandes olhos verdes e ar onipotente, o animal era visto lado a lado com Eisenholtz nas suas raras visitas a cidade. Mas certo dia o felino fora encontrado morto, faltando-lhe os dois olhos. Imaginava-se quem poderia ter cometido tamanha crueldade.
      Juntando seus conhecimentos de medicina à magia negra, Eisenholtz montou um laboratório de aberrações em seu porão, além de uma farta biblioteca em um dos quartos. “Ulsharah, aceite tal sacrifício como retribuição à dádiva a mim fornecida.” Embora corresse pelos campos declarando que havia conquistado a vida eterna, seu aspecto havia piorado muito desde a última vez que havia sido visto. Seus olhos estavam saltados, mostrando a falta de noites de sono, e emagrecera, dando a si um aspecto cadavérico e subumano.
      Certa noite, Eisenholtz pegara seu livro negro, e tirara um misterioso pacote do laboratório. Eram os olhos do gato. Há meses estava alucinado com os olhos de gato. O que eles vêem tão intensamente no escuro? Logo entenderia tudo. A imortalidade já não lhe bastava. Queria ver além de um mísero humano. Só assim se sentiria um ser digno da graça de Ulsharah.
      Por longas horas, urros de dor e satisfação foram ouvidos por todo o vale. Passou se uma semana, e Eisenholtz apareceu novamente. Mas estava diferente. Seus olhos, antes escuros, se tornaram claros e profundos, como duas esferas de cristal. Mesmo seus estranhos empregados começaram a sair da propriedade, como se uma grande praga estivesse por vir.
      Apesar dos poucos empregados restantes, estranhos preparativos estavam sendo feitos, tal como uma futura celebração. Um estranho círculo de pedras rodeou a casa, e em uma sábado de lua cheia uma altiva fogueira subiu ao céu. Os animas da cidade ficaram estranhos, cavalos ficavam agitados ao passar perto do monte, e os cães antes serenos ficavam agressivos, de olho na lua. Ironicamente, um grande grupo de gatos subia em direção ao ritual, como convidados para um casamento.
      Eisenholtz dançava em volta do círculo, e dizia para seus empregados, que não necessitavam fechar os olhos, afinal apenas os olhos de gato teriam o dom de apreciar tamanha beleza. Enfim, ignoro qual tenha sido sua última visão, que o levara a enlouquecer e se enforcar na biblioteca, não antes de incendiar sua casa junto com toda sua plantação. Um gato ficara em cima de uma das pedras, olhando as chamas, tal como se estivesse sorrindo.
      Esta foi à última vez que vi meu patrão Eisenholtz, que por curiosidade ou pena tenho acompanhado até seu trágico fim. O morro onde vivia ainda é evitado, e segundo testemunhas, UMA AGONIZANTE MASSA DISFORME E PRIVADA DE RETINAS AINDA VAGA POR AQUELE LUGAR.

       
FIM
                                                                                            (Moonlight Rider)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Morto-Vivo

Aprisionado no ventre da moral e da dúvida
Vejo meus sentimentos me corroerem pouco a pouco como ratos de calabouço,
E sempre que esfolo minhas mãos escavando uma saída desse tártaro
Deparo com a chave pendurada me transmitindo um brilho de esperança
Mas no fim essa luz não passa de um mero reflexo da luz do sol
Que jaz há muitas léguas no horizonte...

Eu preferiria ter sido sepultado junto com os ossos de todos meus sonhos
Ou ter sido afogado nesse poço escuro, seria um fim preferível,
Agora definho nesta ilha, como um sobrevivente de um naufrágio
Cujas esperança que me destrói é ao mesmo tempo o que me mantém vivo
Mas a dama que aguarda volta desse soldado não é nada mais que a sombra de um pensamento, e casa que o espera é apenas a prisão de que ele sempre escapou...

                                                                                                                          (Moonlight Rider)