terça-feira, 6 de agosto de 2013

Conto: A Parede




Talvez essa parede que obstrua sua visão seja a única

coisa que lhe impede de cair no abismo...”

 

     Nos arredores de uma grande e cinza metrópole, havia um penhasco, tão profundo e escuro que nem mesmo o mais forte raio de sol era capaz de transpor a sua eterna escuridão. No entanto, do outro lado desse abismo havia uma floresta inexplorada e um vasto e colorido horizonte, cujo maior destaque era uma árvore de titânicas proporções e exuberante beleza.

     Alguns habitantes batizaram-no de Vale da Sabedoria, pois os poucos que lá colocaram seus pés denunciaram segredos cósmicos que estavam muito além do limite humano.

      Mas certo dia, não se sabe exatamente como, a ponte que ligava esses dois mundos se rompera, e havia quem acreditasse que fora uma ação criminosa, outros, um acidente, mas, a verdade de fato nunca se revelara.

      Desolados, alguns habitantes curiosos ainda buscavam o vale, e sentavam na beira do abismo, e faziam questionamentos sobre o habitava o outro lado. Mas, mesmo enxergando esse mundo apenas de longe, suas mentes cada vez mais se abriam, e a maioria, extasiados pelas visões, ou inconformados pela sua incapacidade de alcançar o outro lado, acabavam por se lançar no abismo.

     Essa cena insana se repetiu por várias vezes, até que, visando o fim dessas tragédias, as autoridades locais decidiram levantar uma imensa parede de alvenaria nos limites da cidade, que cercava todo o perímetro do abismo.

     Os anos se passaram, e a parede continuava ali, gerando dúvidas nas gerações mais novas, que questionavam o porquê da existência daquele imenso muro, e o que ele mantinha oculto do outro lado.

     Devido ao grande crescimento populacional que a cidade alcançara, os habitantes começaram a construir suas moradias em volta do muro. Alguns mais espertos aproveitavam a muralha como uma das paredes de sua casa, economizando assim, tempo e material. Logo, a ideia se espalhou, e os outros vizinhos aderiram ao mesmo recurso.

     Assim que as construções ficavam prontas, e a parede começou a atiçar a curiosidade de três vizinhos, que passaram a questionar a mesma, e começaram a quebrar para saciar a vontade de descobrir tudo que havia de oculto.

    O primeiro destruiu seu lado da Parede em um ritmo incontrolável, e, em apenas um dia, havia concluído a sua tarefa. Ficou maravilhado com a visão do Vale da Sabedoria, e passava várias tardes, olhando para esse horizonte, buscando maneiras de alcançar o outro lado. Mas por alguma razão não conseguia pensar em nada, e ao olhar mais uma vez para aquele gigantesco vale que estava fora de seu alcance, sua frustração o consumiu, e este marchou rumo ao abismo, afundando em sua própria tristeza.

     O segundo, ao assistir todo o fracasso do primeiro explorador, hesitou em quebrar o seu lado, por temer o mesmo destino, pintou na Parede uma bela paisagem, semelhante à do Vale, porém com alterações, e apenas essa pintura foi o bastante para curar sua tristeza por não poder alcançar o outro lado.

     Um terceiro, que morava distante dos dois primeiros também passou a quebrar o seu lado da Parede, mas com cautela, e fazia pequenos buracos, de onde era possível avistar o Vale. A cada singela olhada, ele via algo novo, e cada vez mais conseguia imaginar meios seguros de alcançar o outro lado.

     Após muito tempo coletando material e fazendo cálculos, o terceiro vizinho construiu uma ponte, e finalmente pode destruir por completo o seu lado da parede, e assim conseguia livremente ir voltar do Vale.

     Agora simplesmente cabia aos outros vizinhos repetir o seu ato.

                                                                                                                                     
                                                                FIM